Yoga: o sentido da vida plena com felicidade e sem depressão.
(texto agraciado com o 1º lugar no Concurso de Redação da Embaixada da Índia em comemoração ao Dia Mundial de Yoga, 21 de junho de 2017)
A tradição do Yoga se vale tanto de textos épicos extraordinários, como a Canção do Ser Divino (a Bhagavad Gita), quanto de textos doutrinários, como os Sutras do Yoga de Patândjali.
Essas duas principais referências são anteriores em séculos à era cristã e precedidos pela extensa literatura védica, notadamente a do estilo das Upanishadas, que estabelece os fundamentos do Yoga com o foco no sentido do viver, no significado da existência e na divina e espiritual natureza da vida.
Embora o Século XX tenha enfatizado as práticas de Yoga postural, de fortalecimento e vigor, aqueles fundamentos originais com foco em atitudes e virtudes permanecem, na medida em que aquelas referências citadas de início são estudadas, compreendidas e aplicadas tanto em conjunto com as práticas posturais quanto e, principalmente, na vida do dia a dia dos praticantes de Yoga.
A tradição focaliza o sentido da vida, por meio do isolamento da percepção em relação à dispersão aparente da realidade. Ela orienta o recolhimento da mente ao coração para que a natureza espiritual prevaleça e a pessoa individual possa ver a realidade com visão do ser essencial que ela é, sempre foi e sempre será.
Desse modo, com a tranquilidade assentada na natureza divina da vida que pulsa em seu coração, a pessoa passa a perceber em cada circunstância o que deve fazer ou evitar. Mesmo sem palavras, ela percebe o que é importante a destacar, ela sente de modo evidente o sentido instantâneo da sua vida.
Portanto, ninguém precisa dizer ou dar um propósito de viver ou uma missão a cumprir para quem está em sintonia com o sentido da sua vida: o seu dharma, ou a sua vocação essencial, como se diz na tradição do Yoga.
Pois quem está assim sintonizado com o sentido da sua própria vida, percebe a realidade além da visão operacional e social, orienta-se com desapego, sem egoidade e percebe claramente o seu papel na vida, entende a importância do que deve ser feito e tem o valor da vida, do bem e da verdade como guias de ação.
Com essa percepção e o comportamento dela decorrente, a pessoa passa a sentir o valor da sua vida e a confiança na sua intuição, para dissipar as dúvidas, vencer a imobilidade, curar-se, agir sem preocupação de vitórias ou derrotas, porque ela está a fazer o que é para ser feito: o resultado será da ação e não dela. Ela não precisa mais de reconhecimentos externos. Ela já é plena em princípio e feliz, porque está a agir conforme o seu dharma e não o dharma de outra pessoa, por imitação ou imposição.
A chave comportamental que previne e ajuda a curar a depressão, conforme a mais atual compreensão da psiquiatria nesse tema, cujo destaque é dos conceitos publicados do famoso psiquiatra austríaco, Viktor Frankl (fartamente disponível em livros e na Internet), é exatamente a percepção do sentido íntimo e espiritual da vida de uma pessoa e a própria dedicação da pessoa a esse sentido.
A linha terapêutica dessa orientação trabalha com o diálogo que capacita o paciente a verbalizar o sentido íntimo da sua vida. Não necessariamente um sentido de longo prazo e sim o circunstancial, aquele percebido quando o paciente traz a sua mente para o coração, para o interior dos seus sentimentos, para a sua espiritualidade natural e desfaz a confusão provocada pelo excesso ou desequilíbrio emocional em situações de desconforto acentuado e insuportável.
A cura da depressão exige, evidentemente, bastante atenção e até medicação específica por um tempo adequado, mas a exemplo da reconhecida terapia do doutor Viktor Frankl, a prática da tradição do Yoga, conforme se descreveu neste texto, focaliza exatamente o mesmo alvo: o dharma individual, o sentido pessoal da vida de cada um que se revela em todas as circunstâncias, nas quais se recolhe a mente ao coração, se isola a percepção da aparência ilusória da realidade e se passa a ver com os olhos espirituais do coração.
Em mais de três décadas da minha observação pessoal como instrutor de Yoga (conforme os ensinamentos do The Yoga Institute, Santa Cruz, Mumbay, Índia) tenho observado com alegria os resultados positivos de prevenção e redução de tendências depressivas (e de inúmeros casos de mal estar habitual), que são obtidos pela prática do recolhimento mental e do cultivo das atitudes correspondentes ao dharma individual dos praticantes que orientei conforme a tradição do Yoga.
Para tanto, se esclarecem, em todas as aulas, aqueles fundamentos e se associa cada postura às atitudes que elas podem propiciar para sintonizar a pessoa com o seu dharma, do seguinte modo: (1) a percepção do ambiente em que se está, nas posturas verticais; (2) a percepção de si mesmo (o seu coração espiritual), nas posturas meditativas; (3) o desapego, nas posturas de inclinação anterior com expiração; (4) a autoconfiança, nas posturas de inclinação posterior com inspiração; (5) ser quem se é autenticamente, em todas as posturas e nas circunstâncias do dia a dia.
Muito antes do atual progresso da compreensão da psicologia para o tratamento fundamentado da depressão, há mais de vinte e cinco séculos, os pensadores hinduístas sistematizaram de forma elegante e comunicativa os fundamentos e a doutrina para se vivenciar o sentido da vida com integralidade e autenticidade, plenitude e felicidade, em que os males como a depressão poderiam ser evitados ou ter suas causas mentais eliminadas. Os que transmitiram aquela sabedoria até nós são involuntários merecedores da gratidão dos tempos atuais.
Thadeu Martins
A tradição do Yoga se vale tanto de textos épicos extraordinários, como a Canção do Ser Divino (a Bhagavad Gita), quanto de textos doutrinários, como os Sutras do Yoga de Patândjali.
Essas duas principais referências são anteriores em séculos à era cristã e precedidos pela extensa literatura védica, notadamente a do estilo das Upanishadas, que estabelece os fundamentos do Yoga com o foco no sentido do viver, no significado da existência e na divina e espiritual natureza da vida.
Embora o Século XX tenha enfatizado as práticas de Yoga postural, de fortalecimento e vigor, aqueles fundamentos originais com foco em atitudes e virtudes permanecem, na medida em que aquelas referências citadas de início são estudadas, compreendidas e aplicadas tanto em conjunto com as práticas posturais quanto e, principalmente, na vida do dia a dia dos praticantes de Yoga.
A tradição focaliza o sentido da vida, por meio do isolamento da percepção em relação à dispersão aparente da realidade. Ela orienta o recolhimento da mente ao coração para que a natureza espiritual prevaleça e a pessoa individual possa ver a realidade com visão do ser essencial que ela é, sempre foi e sempre será.
Desse modo, com a tranquilidade assentada na natureza divina da vida que pulsa em seu coração, a pessoa passa a perceber em cada circunstância o que deve fazer ou evitar. Mesmo sem palavras, ela percebe o que é importante a destacar, ela sente de modo evidente o sentido instantâneo da sua vida.
Portanto, ninguém precisa dizer ou dar um propósito de viver ou uma missão a cumprir para quem está em sintonia com o sentido da sua vida: o seu dharma, ou a sua vocação essencial, como se diz na tradição do Yoga.
Pois quem está assim sintonizado com o sentido da sua própria vida, percebe a realidade além da visão operacional e social, orienta-se com desapego, sem egoidade e percebe claramente o seu papel na vida, entende a importância do que deve ser feito e tem o valor da vida, do bem e da verdade como guias de ação.
Com essa percepção e o comportamento dela decorrente, a pessoa passa a sentir o valor da sua vida e a confiança na sua intuição, para dissipar as dúvidas, vencer a imobilidade, curar-se, agir sem preocupação de vitórias ou derrotas, porque ela está a fazer o que é para ser feito: o resultado será da ação e não dela. Ela não precisa mais de reconhecimentos externos. Ela já é plena em princípio e feliz, porque está a agir conforme o seu dharma e não o dharma de outra pessoa, por imitação ou imposição.
A chave comportamental que previne e ajuda a curar a depressão, conforme a mais atual compreensão da psiquiatria nesse tema, cujo destaque é dos conceitos publicados do famoso psiquiatra austríaco, Viktor Frankl (fartamente disponível em livros e na Internet), é exatamente a percepção do sentido íntimo e espiritual da vida de uma pessoa e a própria dedicação da pessoa a esse sentido.
A linha terapêutica dessa orientação trabalha com o diálogo que capacita o paciente a verbalizar o sentido íntimo da sua vida. Não necessariamente um sentido de longo prazo e sim o circunstancial, aquele percebido quando o paciente traz a sua mente para o coração, para o interior dos seus sentimentos, para a sua espiritualidade natural e desfaz a confusão provocada pelo excesso ou desequilíbrio emocional em situações de desconforto acentuado e insuportável.
A cura da depressão exige, evidentemente, bastante atenção e até medicação específica por um tempo adequado, mas a exemplo da reconhecida terapia do doutor Viktor Frankl, a prática da tradição do Yoga, conforme se descreveu neste texto, focaliza exatamente o mesmo alvo: o dharma individual, o sentido pessoal da vida de cada um que se revela em todas as circunstâncias, nas quais se recolhe a mente ao coração, se isola a percepção da aparência ilusória da realidade e se passa a ver com os olhos espirituais do coração.
Em mais de três décadas da minha observação pessoal como instrutor de Yoga (conforme os ensinamentos do The Yoga Institute, Santa Cruz, Mumbay, Índia) tenho observado com alegria os resultados positivos de prevenção e redução de tendências depressivas (e de inúmeros casos de mal estar habitual), que são obtidos pela prática do recolhimento mental e do cultivo das atitudes correspondentes ao dharma individual dos praticantes que orientei conforme a tradição do Yoga.
Para tanto, se esclarecem, em todas as aulas, aqueles fundamentos e se associa cada postura às atitudes que elas podem propiciar para sintonizar a pessoa com o seu dharma, do seguinte modo: (1) a percepção do ambiente em que se está, nas posturas verticais; (2) a percepção de si mesmo (o seu coração espiritual), nas posturas meditativas; (3) o desapego, nas posturas de inclinação anterior com expiração; (4) a autoconfiança, nas posturas de inclinação posterior com inspiração; (5) ser quem se é autenticamente, em todas as posturas e nas circunstâncias do dia a dia.
Muito antes do atual progresso da compreensão da psicologia para o tratamento fundamentado da depressão, há mais de vinte e cinco séculos, os pensadores hinduístas sistematizaram de forma elegante e comunicativa os fundamentos e a doutrina para se vivenciar o sentido da vida com integralidade e autenticidade, plenitude e felicidade, em que os males como a depressão poderiam ser evitados ou ter suas causas mentais eliminadas. Os que transmitiram aquela sabedoria até nós são involuntários merecedores da gratidão dos tempos atuais.
Thadeu Martins
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